A
Biblioteca Nacional anunciou hoje que
adquiriu, num leilão realizado terça e quarta-feira, um
conjunto de cartas escritas por
Ramalho Ortigão entre
1910 e 1915.
Esta série de
44 cartas e cartões inéditos foi arrematado no leilão do
Palácio do Correio Velho por 7.200 euros, indicou a leiloeira. Em comunicado, a
Biblioteca Nacional assinala que se trata de «um importante conjunto documental relativo a um dos homens de letras mais relevantes do universo contemporâneo da geração de 70
».
Nas cartas, escritas nos últimos anos de Ramalho Ortigão, que morreu em 1915, o escritor manifesta o seu posicionamento contrário à instauração da República e faz um retrato da vida política, social e cultural portuguesa da época. A correspondência é dirigida ao diplomata
Henrique Resende Dias de Oliveira, amigo do escritor e exilado em França e na Suíça após a queda da monarquia.
«O presente núcleo junta-se a outros conjuntos documentais que, como os manuscritos diversos de
Eça de Queirós recentemente incorporados, vêm completar os espólios literários à guarda do
Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional», refere o comunicado.
Ramalho Ortigão, amigo de Eça (falecido em 1900), manifesta numa das cartas a sua indignação pelo corte da pensão feito à viúva deste pelo governo da República. Noutra carta, relata os incómodos sofridos com a nova «força política». Esta, «representada por oito cidadãos de revólver à cintura, à ordem do Exº governador civil, invadiu a minha casa, rebuscou gavetas e armários, remexeu camisas, gravatas, luvas e papéis, e fez-me o favor de terminar constatando que eu não tinha padres escondidos nem munições de guerra depositadas nas minhas estantes».